sábado, 19 de março de 2011

Nunca Desista de Seus Sonhos!!!

Oi!

Esses dias eu andei um pouco carente... E nas horas vagas procurei conversar com alguns amigos que tenho em minha lista de contatos do msn. Mas os desencontros de horários e as ocupações do dia-a-dia andou nos distanciando... Foi quando tive a idéia de digitar um pouco do livro que me fez acreditar um pouco mais em sonhos que eu tinha escondidos num cantinho humilde, que nem pra mim mesmo eu tinha coragem de ousar chama-los de sonhos. Eu sempre duvidei da minha capacidade intelectual, sempre tive a mania de acreditar que os outros eram sempre melhores que eu, isso me fez estacionar, deixar de dar frutos. Depois que passei a acreditar que Deus me amava, e que Ele era a razão de viver, me fez querer amar a vida e tudo de bom que ela pode nos proporcionar, mas ainda assim eu não acreditava que fosse capaz de algo como cursar uma faculdade. Aí eu comprei o livro do Augusto Cury, "Nunca Desista de Seus Sonhos". Fiquei tão inspirada! Eu já tinha 30 anos, mas me considerava uma pessoa muito velha, eu já tinha 2 filhos, e pensava que tudo estava bem daquele jeito. Na verdade eu não acreditava em mim. Eu resolvi ir à uma faculdade sem que ninguém soubesse, marquei a prova do vestibular. Fiz para jornalismo. Na época meu ex marido não quis ir me deixar, ele sempre me acompanhava à todos os lugares. Fiquei um pouco insegura, mas fui sozinha. Muito tímida e nervosa cheguei na faculdade, meio perdida, fui pedindo orientação até chegar a sala. Tinha passado dias estudando escondida e lendo como sempre gostava de fazer. Na hora da prova, procurei me concentrar, mas o que mais vinha a minha mente era de que todos os heróis passaram por lutas, e eram desacreditados e humilhados. Naquele momento eu me senti em uma guerra, uma guerra contra mim, contra uma sociedade que julga que quem não tem uma origem nobre não tem direito a realizar seus sonhos. As pessoas que nasceram de origem humilde são muitas vezes passadas quase como invisíveis. Podemos até não estender a mão a quem necessita de ajuda, mas fingir que não estamos os vendo? Isso é imoral. Então, depois que fiz a prova, passei dias roendo as unhas, tensa, quando foi no dia de saber o resultado, fui olhar o resultado na internet... lá estava o meu nome! Era o primeiro da lista, e a ordem dos nomes era pela nota... O meu foi o primeiro nome da lista! A sensação que eu sentí... ainda posso sentí-la, de que não importa que nos digam que nunca vamos ser nada, mas que podemos surpreendê-los! Eu não entrei nesse curso, nesta prova que fiz. Depois de um tempo fiz outra prova e entrei pra Gestão Ambiental, porém, pra mim o importante foi eu ter quebrado a barreira que me tinham implantado há tempos, de que eu nunca conseguiria nada, que eu era incapaz.
Eu digitei o prefácio e o primeiro capítulo deste livro que o considero um livro capaz de fazer com que acreditemos mais em nós e em nossos sonhos, e que eles são possíveis.


Nunca Desista De Seus Sonhos
Augusto Cury

Sem sonhos, as perdas se tornam insuportáveis, as pedras do caminho se tornam montanhas, os fracassos se transformam em golpes fatais.
Mas, se você tiver grandes sonhos...
Seus Erros produzirão crescimento, seus desafios produzirão oportunidades, seus medos produzirão coragem.
Por isso, meu ardente desejo é que você
NUNCA DESISTA DE SEUS SONHOS.
Prefácio
OS SONHOS ALIMENTAM A VIDA

Os sonhos são como vento, você não sabe de onde eles vieram nem para onde vão. Eles inspiram o poeta, animam o escritor, arrebatam o estudante, abrem a inteligência do cientista, dão ousadia ao líder. Eles nascem como flores nos terrenos da inteligência e crescem nos vales secretos da mente humana, um lugar que poucos exploram e compreendem.
Há dois tipos de sonhos.
Primeiro, os sonhos produzidos quando mergulhamos no sono. Segundo, os sonhos que produzimos quando estamos acordados, vivendo as batalhas da existência, sentindo a vida que pulsa em nosso dia-a-dia.
Os sonhos gerados no sono têm grande importância para o desenvolvimento da inteligência. Quando adormecemos, o “eu”, que representa nossa vontade consciente, deixa de atuar logicamente, e, paralelamente, alguns fenômenos inconscientes começam a ler continuamente a memória e produzir idéias, imagens mentais, fantasias e personagens. Há uma explosão criativa nos sonhos noturnos, uma releitura do passado.
Esses sonhos são como complexos filmes arquitetados sem um diretor, sem uma condução lógica. São filmes que restam as informações do passado recente ou remoto, dando nova forma, cores e sabores às experiências vividas.
Os sonhos noturnos não são inofensivos, pois se registram na memória e podem tanto expandir o aprendizado e enriquecer a personalidade quanto alimentar a insegurança e a ansiedade.
Todos sonhamos quando dormimos, embora nem sempre recordemos dos sonhos quando acordamos. Esse é o primeiro tipo de sonho. Entretanto, não é sobre os sonhos noturnos que vou discorrer neste livro.

͠
Vou falar sobre os sonhos diurnos. O sonho que produzimos quando choramos, brincamos, cantamos, falamos, silenciamos. O sonho que borbulha quando nasce um filho, quando conquistamos um amigo, ganhamos aplausos, recebemos vaias. O sonho que brota quando beijamos quem amamos. O sonho que surge quando a vida tirou, a alegria dissipou, a esperança partiu.
Vou comentar sobre os sonhos que transformam o mundo. Os sonhos que nos inspiram a criar, nos animam a superar, nos encorajam a conquistar. Assim como os noturnos, os sonhos diurnos não são produzidos apenas pela motivação lógica e consciente do “eu”, mas também por fenômenos inconscientes que geram uma usina de emoções e uma fonte de pensamentos.
Moisés, Maomé, Buda, Confúcio, Sócrates, Platão, Sêneca, Abraham Lincoln, Gandhi, Einstein, Freud, Max Weber, Marx, Kant, Thomas Edison, Machado de Assis, Sun Tzu, Khalil Gibran, John Kennedy, Hegel, Maquiavel, Agostinho e muitos outros foram grandes sonhadores.
Estes homens mudaram a história porque tiveram grandes projetos. Tiveram grandes projetos porque viveram grandes sonhos. Seus sonhos aliviaram suas dores, trouxeram esperanças nas perdas, renovaram suas forças nas derrotas. Seus sonhos transformaram sua inteligência num solo fértil.
Deus também sonha? A arquitetura do universo com bilhões  de galáxias e seus infinitos fenômenos parece gritar que não apenas existe um Deus por detrás da cortina da existência, como esse Deus tem um grande sonho! No entanto, parece que só os sensíveis ouvem a Sua voz. Descobrir o sonho do Arquiteto da Vida, independente de uma religião, é a responsabilidade e talvez o maior desafio de cada ser humano.

A Criança e o sábio
Um dia uma criança chegou diante de um pensador e perguntou-lhe: “Que tamanho tem o universo?” Acariciando a cabeça da criança, ele olhou para o infinito e respondeu: “O universo tem o tamanho do seu mundo.”
Perturbada, ela novamente indagou: “Que tamanho tem o meu mundo?” O pensador respondeu: “Tem o tamanho dos seus sonhos.”
Se os seus sonhos são pequenos, sua visão será pequena, suas metas serão limitadas, seus alvos serão diminutos, sua estrada será estreita, sua capacidade de suportar as tormentas será frágil.
Shakespeare disse que “quando se avistam nuvens, os sábios vestem seus mantos”. Sim! A vida tem inevitáveis tempestades. Quando elas sobrevêm, os sábios preparam seus mantos invisíveis: protegem sua emoção usando sua inteligência como paredes e os seus sonhos como teto.
Os sonhos regam a existência com sentido. Se seus sonhos são frágeis, sua comida não terá sabor, suas primaveras não terão flores, suas manhãs não terão orvalho, sua emoção não terá romances.
A presença dos sonhos transforma os miseráveis em reis, e a ausência dos sonhos transforma milionários em mendigos. A presença de sonhos faz, de idosos, jovens, e a ausência de sonhos faz, dos jovens, idosos.
͠
A juventude mundial está perdendo a capacidade de sonhar. Os jovens têm muitos desejos, mas poucos sonhos. Desejos não resistem às dificuldades da vida, sonhos são projetos de vida, sobrevivem ao caos.
A culpa, porém, não é dos jovens. Os adultos criaram uma estufa intelectual que lhes destruiu a capacidade de sonhar. Eles estão adoecendo coletivamente: são agressivos, mais introvertidos; querem muitos, mas se satisfazem pouco.
Os sonhos trazem saúde para a emoção, equipam o frágil para ser autor da sua história, renovam as forças do ansioso, animam os deprimidos, transformam os inseguros em seres humanos de raro valor. Os sonhos fazem os tímidos terem golpes de ousadia e os derrotados serem construtores de oportunidades.
Este livro foi escrito para todos os que precisam sonhar (crianças, jovens, pais, profissionais) e não apenas para psicólogos e educadores. Ele fala sobre a ciência dos sonhos, a mente dos sonhadores, a personalidade dos que nunca desistiram dos seus sonhos.
Acima de tudo, este livro ensina a pensar. Provavelmente, ao lê-lo, você vai repensar a sua vida.
Uma mente saudável deveria ser uma usina de sonhos. Pois os sonhos oxigenam a inteligência e irrigam a vida de prazer e sentido.

INTRODUÇÃO
OS SONHOS ABREM AS JANELAS DA INTELIGÊNCIA
Quem consegue decifrar o ser humano?
Um paciente culto me disse certa vez que era capaz de enfrentar um cachorro bravio, mas morria de medo das borboletas. Quais são os riscos reais que uma borboleta produz?
Nenhum, a não ser encantar os olhos com sua beleza. O conflito desse paciente não são os perigos reais exteriores, mas os perigos imaginários. Seu drama não é gerado pela borboleta física, mas pela borboleta psicológica registrada de maneira distorcida nos solos da sua memória. Sua mãe lhe disse na infância que, se tocasse numa borboleta com suas mãos e as colocasse nos olhos, ficaria cego. Quando o menino tocou numa borboleta, sua mãe gritou. O grito de alerta cruzou com imagem da borboleta. Ambos os estímulos foram registrados no mesmo lócus do inconsciente, na mesma janela da memória. A belíssima e inofensiva borboleta tornou-se um monstro.
Durante toda a infância, quando esse paciente enxergava uma imagem de uma borboleta bailando graciosamente no ar, ele detonava um gatilho psíquico que abria em milésimos de segundos a janela de a memória em que a imagem doentia estava registrada. A borboleta imaginária era libertada do seu inconsciente, assaltava-lhe a emoção e roubava-lhe a tranqüilidade.
O grande problema é que todas as vezes em que ele tiver uma experiência angustiante diante de borboletas, ela será registrada novamente, contaminando inúmeras outras janelas da memória. Quanto mais áreas doentias estiverem comprometidas em seu inconsciente, mais ele irá reagir sem racionalidade. Se esse paciente não reescrever a sua história, poderá tornar-se uma pessoa fóbica, frágil, sem capacidade de lutar pelos seus sonhos e com tendência a inúmeros outros tipos  de medos.
Os mecanismos que acabamos de descrever é um dos segredos da psicologia. Demoramos mais de um século para compreendê-lo. Por meio da teoria da Inteligência Multifocal estamos desvendando alguns fenômenos contidos nos bastidores da nossa mente que afetam todo o processo de construção de pensamentos e geram os traumas psíquicos. Não é a realidade concreta de um objeto que importa para nossa personalidade, mas a realidade interpretada, registrada.
Para alguns, um elevador é um lugar de passeio; para outros, um cubículo sem ar. Para uns, falar em público é uma aventura; para outros, um martírio que obstrui a inteligência. Para uns, as derrotas são lições de vida; para outros, um sufocante sentimento de culpa. Para uns, o desconhecido é um jardim; para outros, uma fonte de pavor. Para uns, uma perda é uma dor insuportável; para outros, um golpe que lapida o diamante da emoção.
Todos criamos monstros que dilaceram sonhos
Quantos monstros imaginários foram arquivados nos subsolos da sua mente, furtando seu prazer de viver e dilacerando seus sonhos? Todos temos monstros escondidos por detrás da nossa gentileza e serenidade.
A maneira como enfrentamos a rejeições, decepções, erros, perdas, sentimentos de culpa, conflitos nos relacionamentos, críticas e crises profissionais pode gerar maturidade ou angústia, segurança ou traumas, líderes ou vitimas. Alguns momentos geraram conflitos que mudaram nossas vidas, ainda que não percebamos.
Algumas pessoas não se levantaram mais depois de certas derrotas. Outras nunca mais tiveram coragem de olhar para o horizonte com esperança depois de suas perdas. Pessoas sensíveis foram encarceradas pela culpa, tornaram-se reféns do seu passado depois de cometerem certas falhas. A culpa as asfixiou.
Alguns jovens extrovertidos perderam para sempre sua auto-estima depois que foram humilhados publicamente. Outros perderam a primavera da vida porque foram rejeitados por seus defeitos físicos ou por não terem um corpo segundo o padrão doentio de beleza ditado pela mídia.
Alguns adultos nunca mais se levantaram depois de atravessar uma grave crise financeira. Mulheres e homens perderam para sempre sua auto-estima depois que foram humilhados publicamente. Outros perderam o romantismo depois de fracassarem em seus relacionamentos afetivos, após terem sidos traídos, incompreendidos, feridos ou não amados.
Filhos perderam a vivacidade nos olhos depois que um dos pais fechou os olhos para a existência. Sentiram-se sós no meio da multidão. Crianças perderam sua ingenuidade depois da separação traumática dos pais. Foram vítimas inocentes de uma guerra que nunca entenderam. Trocaram as brincadeiras pelo choro oculto e cálido.
A complexidade da mente humana nos faz transformar uma borboleta num dinossauro, uma decepção num desastre emocional, um ambiente fechado num cubículo sem ar, um sintoma físico num prenúncio da morte, um fracasso num objeto de vergonha.
Precisamos resolver nossos monstros secretos, nossas feridas clandestinas, nossa insanidade oculta (Foucalt, 198). Não podemos nunca esquecer que os sonhos, a motivação, o desejo de ser livre nos ajudam a superar esses monstros, vencê-los e utilizá-los como servos da nossa Inteligência. Não tenha medo da dor, tenha medo de não enfrentá-la, criticá-la, usá-la.
Todos somos complexos e complicados
Na minha trajetória como cientista da psicologia e psiquiatra clínico, eu me convenci de que nada é tão lógico quanto o ser humano e nada é tão contraditório quanto ele. Podemos criar no teatro das nossas mentes os extremos: o drama e a sátira, o pânico e o sorriso, a força e a fragilidade.
Somos tão criativos que, quando não temos problemas, nós os inventamos. Alguns são especialistas em sofrer por coisas que eles mesmos criaram. Outros têm motivos para serem alegres, mas mendigam o prazer. Possuem grandes depósitos nos bancos, mas estão endividados no âmago do seu ser. São ansiosos e estressados.
Gandhi comentou com sensibilidade: “O que pensais, passais a ser.” O que pensamos afeta a emoção, infecta a memória e gera as misérias psíquicas. Nunca houve tantos miseráveis em carros importados, trabalhando em grandes escritórios, viajando de avião, saindo nas capas das revistas. Quem é escravo dos seus pensamentos não  é livre para sonhar.
Ser complicado não é privilégio de uma pessoa, de um povo, de um grupo social, de uma faixa etária. Adultos e crianças, psiquiatras e pacientes, intelectuais e alunos são complicados, têm momentos em que se irritam por pequenas coisas, sofrem desnecessariamente. Uns mais, outros menos.
É impossível estar livre de contradições e incoerências. Por quê? Porque temos uma complexa emoção que influencia a lógica dos pensamentos, as reações e atitudes humanas.
Qualquer pessoa que quer ser perfeita demais estará apta para ser um computador, mas não uma pessoa completa. Não devemos ficar aborrecidos por sermos tão complicados. Se, por um lado, nossas dores de cabeça surgem no campo que extrapola a lógica, as maravilhas da nossa inteligência também surgem nessa esfera.
Nossa capacidade de amar, tolerar, brincar, criar, intuir, sonhar é uma das maravilhas que surgem numa esfera que ultrapassa os limites da razão. Todas as pessoas muito racionais amam menos e sonham pouco. Os sensíveis sofrem mais, mas amam mais e sonham mais.

Inspiração e transpiração
Nem sempre os sonhos são definidos e bem organizados no teatro da mente. Às vezes nascem como pequenos traçados, simples esboços, idéias vagas que vão se desenhando e tomando forma ao longo da vida. Todas as grandes mudanças da humanidade no campo social, político, emocional, científico, tecnológico e espiritual surgiram por causa dos grandes sonhos.
Para ter grandes sonhos e produzir importantes mudanças na sociedade não é preciso ter características genéticas superiores ou privilégios dos gênios.
Thomas Edison acreditava que as conquistas humanas compõem-se de 1% de inspiração e 99% de  transpiração. O inventor da “luz exterior” teve uma luz interior. Acredito que seu princípio tem fundamento, mas precisa de correção.
Creio que as conquistas dependem de 50% de inspiração, criatividade e sonhos, e 50% de disciplina, trabalho árduo e determinação. São duas pernas que devem caminhar juntas. Uma depende da outra, caso contrário nossos projetos tornam-se miragens, nossas metas não se concretizam.
Quem quer atingir a excelência nos seus estudos, nas suas relações afetivas e na sua profissão precisa libertar a criatividade para ser um sonhador e libertar a coragem para ser um empreendedor. Esses dois pilares contribuem para formar o caráter de um líder.
Os segredos dos que mudaram a história
A maior genialidade não é aquela que vêm da carga genética nem é produzida pela cultura acadêmica, mas a que é construída nos vales dos medos, no deserto das dificuldades, nos invernos da existência, no mercado dos desafios.
Muitos sonhadores desenvolveram áreas nobres da sua inteligência, áreas que todos têm condições de desenvolver. Elas atravessaram turbulências quase que insuperáveis. Suportaram pressões que poucos tolerariam. Viveram dias ansiosos, sentiram-se pequenos diante dos obstáculos.
Alguns foram chamados de loucos, outros, de tolos. Zombaram de alguns, outros foram discriminados. Tinham todos os motivos para desistir dos seus sonhos e, em certos momentos, até da própria vida. Mas não desistiram. Quais foram os seus segredos?
Eles fizeram da vida uma aventura. Não foram aprisionados pela rotina. Claro, é impossível escapar da rotina. Em muitos momentos ela é um calmante necessário. Mas esses sonhadores passaram pelo menos 10% do seu tempo criando, inventando, descobrindo.
Tiveram uma visão panorâmica da existência em templo nublado. Foram empreendedores, estrategistas, persuasivos, amigos do otimismo. Foram sociáveis, observadores, analíticos, críticos.
Fizeram escolhas, traçaram metas e as executaram com paciência. Para o filósofo Kant, “a paciência é amarga, mas seus frutos são doces”.
A paciência é o diamante da personalidade. Muitos discorrem sobre ela, poucos são seus amantes. Mas os que conquistam colherão os mais excelentes frutos.
Para Plutarco, “a paciência tem mais poder do que a força”.  Não meça um ser humano pelo seu poder político e financeiro. Meça-o pela grandeza dos seus sonhos e pela paciência em executá-los. Mas a paciência precisa de outro remo para conduzir o barco dos sonhos. Qual?
Precisa da coragem para correr riscos. Os maiores riscos para quem sonha são as pedras do caminho. Tropeçamos nas pequenas pedras e não nas grandes montanhas. Quem é controlado pelos riscos e pelos perigos das jornadas não tem resistência emocional. Cedo recua. Você tem essa resistência?
Epicuro acreditava que “os grandes navegadores deviam sua reputação aos temporais e às tempestades”. Se você  tiver medo das tempestades, nunca navegará pelos mares desconhecidos. Jamais conquistará outros continentes.
Os que transformaram seus sonhos em realidade aprenderam a ser líderes de si mesmos para depois liderar o mundo que os cercava. Tinham uma ambição positiva, queriam transformar a sua sociedade, a sua empresa, seu espaço afetivo. Eram pessoas inconformadas tanto com os problemas sociais quanto com suas mazelas psíquicas.
Seus sonhos se tornaram realidade porque ganharam um combustível emocional que jamais se apagou, mesmo ao atravessarem chuvas torrenciais. Qual é esse combustível? A paixão pela vida, o amor pela humanidade. Foram dominados por um desejo incontrolável de serem úteis para os outros. Quem vive para si mesmo não tem raízes internas.
É possível destruir o sonho de um ser humano quando ele sonha para si, mas é impossível destruir seu sonho quando ele sonha para os outros, a não ser que lhe tirem a vida. Os ditadores jamais destruíram os sonhos dos que sonharam com a liberdade do seu povo. Morreram os ditadores, enferrujaram-se as armas, mas não se destruíram os sonhos de quem ama ser livre.



Garimpando ouro nos escombros das derrotas
Farei neste livro uma análise aberta, livre e crítica sobre o funcionamento da mente de quatro personagens que construíram belíssimos sonhos e que fizeram outros sonharem. Escolhi quatro personagens apaixonados pela humanidade. E que passaram por momentos em que foram desacreditados, excluídos, feridos, considerados loucos, tolos, audaciosos.
Eles atravessaram o território do medo e escalaram os penhascos das dificuldades. Tombaram pelo caminho, feriram-se, mas continuaram caminhando quando muitos não acreditavam que se levantariam.
Tinham tudo para não dar certo, mas brilharam. Não eram especiais por fora, mas garimparam pedras preciosas nas ruínas dos seus traumas. Você sabe garimpar ouro nos seus conflitos?
A maioria dos adultos da atualidade teria desistido dos seus sonhos e adoecido psiquicamente se tivesse vivido uma pequena parte dos transtornos que esses personagens suportaram.
Muitos jovens recuariam diante de obstáculos semelhantes. A juventude está despreparada para viver nessa estressante sociedade. Os  jovens precisam desenvolver urgentemente resistência intelectual e emocional para suportar perdas, derrotas humilhações, injustiças.
O que diferencia os jovens que fracassam dos que têm sucesso não é a cultura acadêmica, mas a capacidade de superação das adversidades da vida.
Estudaremos as reações desses quatro personagens diante das suas derrotas, veremos sua capacidade de superação, sua competência para serem líderes de si mesmos, sua coragem para correrem riscos, seus talentos intelectuais, sua intuição, sua visão multifocal da realidade.
Muitos outros personagens mereceriam ser descritos aqui, como Buda, Confúcio, Dostoiévski, Kant, Montaigne, John Kennedy, Gandhi, Thomas Edison, Einstein, porque foram grandes sonhadores. Por falta de espaço, não os analisarei, mas usarei as idéias de vários deles para me ajudarem na árdua tarefa de interpretação.
Creio que ao analisar a mente dos quatro personagens escolhidos estarei dissecando alguns princípios fundamentais que alicerçaram a inteligência dos grandes sonhadores de todas as eras. Teremos uma visão global (Morin, 2000) Sobre a formação de pensadores.
As histórias que reconstruirei são baseadas em fatos reais. Não tenho a intenção de escrever uma biografia dos quatro personagens, portanto raramente mencionarei datas. Seguirei apenas uma seqüência dos fatos mais importante na minha interpretação.
O passado é uma cortina de vidro. Felizes os que observam o passado para poder caminhar no futuro. Penetraremos juntos, como um cientista analisando as reações desses personagens, em alguns eventos marcantes de suas vidas.
Ficaremos surpresos com suas histórias. Creio que elas nutrirão nossa inteligência, nos estimularão a desenterrar nossos sonhos e nos darão ferramentas para nos reconstruirmos.
Vamos penetrar no espetacular mundo que produz pesadelos e constrói sonhos.

CÁPITULO 1
O MAIOR VENDEDOR DE SONHOS DA HISTÓRIA

Pequenos momentos que mudam uma história
Pequenos detalhes mudam uma vida. Um marido deu um beijo na esposa e disse que ela estava linda. Havia tempos não fazia isso. Ele a tinha ferido sem perceber. Seu pequeno gesto reeditou uma janela da memória da esposa onde havia uma mágoa oculta. A alegria voltou. A vida inteira precisamos de graça e gentileza. (Platão,1985).
Um pai elogiou um filho. O elogio partiu do coração do pai e penetrou nos becos da emoção do filho, oxigenando a relação que havia tempos estava desgastada. Um beijo, um elogio, um abraço desferido no golpe de um segundo são capazes de superar uma dor alojada há semanas, meses ou anos.
Os que desprezam os pequenos acontecimentos nunca farão grandes descobertas. Pequenos momentos mudam grandes rotas. Foi isso que aconteceu há muitos séculos na vida de alguns jovens que moravam na beira da praia de um país explorado e castigado pela fome. Pequenos momentos mudaram a maneira de pensar a existência. O mundo nunca mais foi o mesmo.
A personalidade construída sobre o crepitar das ondas
O vento roçava a superfície do mar, que levantava o espelho d’água, que produzia o nascedouro das ondas num espetáculo sem fim. As ondas espumavam diariamente e se debruçavam orgulhosamente na orla das praias.
Alguns meninos cresceram correndo pela areia. Pegavam as bolhas que ser formavam no estalido das ondas. Elas brilhavam nas palmas das mãos, mas logo se despediam, dissolviam e vazavam entre seus dedos, como se dissessem: “Eu pertenço ao mar.” Erguendo o semblante para o mar, os meninos diziam secretamente: “Nós também lhe pertencemos.”
Assim era a vida desses jovens. Seus avós tinham sido pescadores, seus pais foram pescadores e eles eram pescadores e morreriam pescadores. A história deles estava cristalizada. Os seus sonhos? Ondas e peixes.
Sonhavam com os cardumes. Entretanto, os peixes escassearam. A vida era árdua. Puxar as pesadas redes do mar era extenuante. Suportar as rajadas de ventos frios e as ondas rebeldes toda noite não era para qualquer um. E o pior, o resultado os frustrava. Cabisbaixos, reconheciam o fracasso. O mar tão grande se tornara uma piscina de decepções.
Todos os dias enfrentavam a mesma rotina e os mesmos obstáculos. Queriam mudar de vida. Mas faltava-lhes coragem. O medo do desconhecido os bloqueava. Era melhor ter muito pouco do que correr o risco de não ter nada. Pensavam.
Na mente desses jovens não deviam passar inquietações sobre os mistérios da vida. A falta de cultura e a labuta pela sobrevivência não os estimulavam a grandes vôos intelectuais. Viver para eles era fenômeno comum e não uma aventura indecifrável.
Nada parecia mudar-lhes o destino até que surgiu no caminho deles o maior vendedor de sonhos de todos os tempos.
Um convite perturbador
Naquelas bandas algo novo quebrou a mesmice. Havia um homem que morara 30 anos num deserto. Seus discursos eram estranhos, seus gestos, bizarros. Parecia delirar em seu modo estranho de viver. Estava perturbado com a idéia fixa de que era o precursor do homem mais importante que jamais pisaria a terra.
Seu nome era João, cognominado de Batista. O que parecia estranho é que ele não convivera com a pessoa que anunciava, mas ela havia ocupado o seu imaginário. Ele fazia discursos eloqüentes às margens de um rio, descrevendo aquele homem com a precisão de um cirurgião.
Multidões se aproximavam para ver o espetáculo das suas idéias. Ele teve a coragem de dizer que o homem que o homem que aguardava era tão grande que ele mesmo não era digno de desatar-lhe as correias das sandálias. As pessoas ficavam perplexas com essas palavras.
Como podia um rebelde aos padrões sociais, que não tinha papas na língua, que não tinha medo de dizer o que pensava, elevar tão alto alguém que não conhecia? Que homem seria esse que João anunciava em seus discursos?
Esses discursos desenhavam no anfiteatro da mente dos ouvintes os mais diferentes quadros. Alguns achavam que o homem anunciado apareceria como um rei, com vestes talares. Outros imaginavam que ele apareceria como um general acompanhado por grande escolta. Outros ainda pensavam que ele era uma pessoa riquíssima que viria numa elegante carruagem, com uma equipe inumerável de serviçais. Todos aguardavam ansiosamente.
Apesar da diversidade das fantasias, a maioria concordava que o encontro com ele sería solene. Todos esperavam um discurso arrebatador. De repente, no calor do entardecer, quando os olhos confundiam as imagens no horizonte, surgiu discretamente um homem simples, de origem pobre. Ninguém o notou.
Suas vestes eram surradas, sem nenhum requinte. Sua pele era desidratada do sol. Não tinha escolta, não tinha carruagem, não tinha serviçais.
Procurava passagem no meio da multidão. Tocava as pessoas com suavidade, pedia licença e pouco a pouco conseguia seu espaço. Alguns não gostaram, outros ficaram indiferentes à sua atitude.
Subitamente os olhares se cruzaram. João contemplou o homem dos seus sonhos. Foi arrebatado pela imagem. A imagem da fantasia das pessoas não coincidia com a imagem real. João via o que ninguém enxergava e, para espanto da multidão, exaltou sobremaneira aquele simples homem.
As pessoas ficaram confusas e decepcionadas. Se a imagem as chocou, esperavam pelo menos que seus ouvidos se deliciassem com o mais excelente discurso. Afinal de contas, a fome e os transtornos sociais eram enormes. Elas precisavam de alento.
Porém o homem dos sonhos de João entrou mudo e saiu calado. O sonho da multidão se dissipou como as gotas d’água agredidas pelo sol do Saara. Desiludidas, as pessoas se dispersaram. Mergulharam novamente na sua entediante rotina.
Alguns jovens ouviram falar dos sonhos de João. Mas estavam ocupados demais com a própria sobrevivência. Nada os animava a não ser ouvir o grito do corpo suplicando por pão para saciar o instinto. O mar era seu mundo.
Não havia nada diferente caminhando pela praia. Não se importaram. Os passos do desconhecido eram lentos e firmes. O viandante se aproximou. Os passos silenciaram. Seus olhos focalizaram os jovens.
Incomodados, eles se entreolhavam. Então, o estranho estilhaçou o silêncio. Ergueu a voz e lhes fez a proposta mais absurda do mundo: “Vinde após mim que eu vos farei pescadores de homens.”
Nunca tinha ouvido tais palavras. Elas perturbaram seus paradigmas. Mexeram com os segredos de suas almas. Ecoaram num lugar que os psiquiatras não conseguem perscrutar. Penetraram no espírito humano e geraram um questionamento sobre o significado da vida, sobre o valor da luta.
Todos deveríamos em algum momento da existência questionar nossas vidas e analisar pelo que estamos lutando. Quem não consegue fazer este questionamento será servo do sistema, viverá para trabalhar, cumprir obrigações profissionais e apenas sobreviver. Por fim, sucumbirá no vazio.
Os nome dos irmãos que ouviram esse convite eram Pedro e André. A rotina do mar havia afogado os seus sonhos. O mundo deles tinha poucas léguas. Mas apareceu-lhes um vendedor de sonhos que lhes incendiou o espírito. Com uma sentença, ele os estimulou a trabalharem para a humanidade, a enfrentarem o oceano imprevisível da sociedade.
Jesus Cristo não havia feito nenhum ato sobrenatural, no entanto sua voz tinha o maior de todos os magnetismos, porque vendia sonhos. Vender sonhos é uma expressão poética que fala de algo invendável. Ele distribuía um bem que o dinheiro jamais pôde comprar. O mestre dos Mestres assombra os fundamentos da psicologia.
Quem se arrisca a segui-lo?
Pense um pouco. Por que seguir esse homem? Quais são as credenciais daquele que fez a proposta? Que implicações sociais e emocionais ela teria? O vendedor de sonhos era um estranho para os dois irmãos. Não tinha nada de palpável para oferecer a esses jovens.
Você aceitaria tal oferta? Largaria tudo para entregar sua vida em prol da humanidade? Jesus não prometeu estradas sem acidentes, noites sem tempestades, sucessos sem perdas. Mas prometeu força na terra do medo, alegria nas lágrimas, afeto no desespero.
Parecia loucura segui-lo. Teriam de explicar para os amigos e parentes sua atitude. Mas como explicar o inexplicável? Pedro e André foram atraídos pelo vendedor de sonhos,mas não entendiam as conseqüências de seus atos. Só sabiam que qualquer barco, ainda que fosse o maior dos navios, era pequeno demais para conter seus sonhos.
Pouco depois o Mestre da vida encontrou dois irmãos mais novos e inexperientes. Eram Tiago e João. Eles estavam à beira da praia consertando as redes. Ao seu se encontravam seu pai e os empregados. O Mestre se aproximou deles, fitou-os e fez o mesmo e intrigante convite.
Não os persuadiu, não ameaçou nem os pressionou, apenas os convidou. Foram cinco segundos que mudaram suas vidas. Foram cinco segundos que abriram as janelas da memória que continham anos de anseio pela liberdade e pelo libertador da nação oprimida.
Zebedeu, o pai, ficou pasmo com a atitude dos filhos. Escorriam lágrimas no seu rosto e dúvidas na sua alma. Ele tinha barcos. Era um negociante. Sua esposa era uma mulher de fibra. Queria que seus filhos fossem prósperos no território da Galiléia. Mas veio alguém e lhes ofereceu o mundo, chamou-os para trabalhar no coração humano.
Deixarem-se convencer de que ele era o Messias era uma tarefa árdua. Ele não podia ser tão comum, despojado, sem pompa e comitiva. Os empregados, chocados, perderam o fôlego.
O pai, vendo a ousadia dos filhos e observando seus olhos brilhando como pérolas em busca dos mais excelentes sonhos, os abençoou. Talvez tenha passado: “Os jovens são rápidos para decidir e rápidos para retornar; logo voltarão para o mar.”

A vida é um contrato de risco
Basta estar vivo para correr riscos. Risco de fracassar, ser rejeitado, frustrar-se consigo mesmo, decepcionar-se com os outros, ser incompreendido, ofendido, reprovado, adoecer.  Não devemos correr riscos irresponsáveis, mas também não devemos temer andar por terrenos desconhecidos, respirar ares nunca antes aspirados.
Viver é uma grande aventura. Quem ficar preso num casulo com medo dos acidentes da vida, além de não eliminá-los, será sempre frustrado. Quem não tem audácia e disciplina pode alimentar grandes sonhos, mas eles serão enterrados nos solos da sua timidez e nos destroços das suas preocupações. Estará sempre em desvantagem competitiva.
Os jovens galileus foram corajosos ao atender ao convite de Jesus Cristo. Tinham muitos defeitos em sua personalidade, mas começaram a ver o mundo de outra maneira. Abriram o leque da inteligência.
Não sabiam onde dormiriam e nem o que comeriam, só sabiam que o vendedor de sonhos indicava que queria mudar o pensamento do mundo.  Não sabiam como ele realizaria seu projeto, mas não queriam ficar longe desse sonho.
Porém quem foi mais audacioso: os discípulos ao seguir Jesus ou Jesus ao escolhê-los? O material humano é vital para o sucesso de um empreendimento. Uma empresa pode ter máquinas, tecnologia, computadores, mas, se não tiver homens  criativos, inteligentes, motivados, que saibam prevenir erros, trabalhar em equipe e pensar a longo prazo, ela poderá sucumbir.

O time escolhido pelo Mestre dos Mestres
Mateus tinha péssima reputação. Era um publicano, coletor de impostos. Na época os coletores eram famosos pela corrupção. Os judeus os odiavam porque eles estavam a serviço do Império Romano, que os explorava. Mateus era uma pessoa sociável, gostava de festas e provavelmente usava dinheiro público para promovê-las.
Tomé tinha a paranóia da insegurança. Só conseguia acreditar naquilo que tocava. Era rápido para pensar e rápido para desacreditar. Andava segundo a lógica, faltava-lhe sensibilidade e imaginação. O mundo tinha que girar em torno das suas verdades, impressões e crenças. Desconfiava de tudo e de todos.
Pedro era o mais forte, determinado e sincero do grupo. Porém, era inculto, iletrado intolerante, irritado, agressivo, inquieto, impaciente, indisciplinado, não suportava ser contrariado. Não era empreendedor, e, como muitos jovens, não planejava o futuro, vivia somente em função dos prazeres do presente.
Suas desqualificações não paravam por aí. Era hiperativo e intensamente ansioso. Impunha, e não expunha suas idéias. Trabalhava mal suas frustrações. Repetia os mesmos erros com freqüência. Se vivesse nos tempos de hoje, seria um aluno que todo professor quereria ver em qualquer lugar do mundo, menos em sua sala de aula. Mas ele foi um dos escolhidos. Você teria coragem de escolhê-lo?
No momento em que seu Mestre foi preso, o clima era tenso e destituído de racionalidade. Havia uma escolta de cerca de trezentos soldados no local. Impulsivo, Pedro cortou a orelha de um soldado. A sua reação quase provoca uma chacina. Todos os discípulos correram risco de morrer por sua atitude impensada.
João era o mais jovem, amável, prestativo e altruísta. Porém, também era ambicioso, irritado, intolerante, intempestivo. Não sabia colocar-se no lugar dos outros nem pensar antes de reagir. Não sabia proteger sua emoção nem filtrar os estímulos estressantes.
Almejava a melhor posição entre os discípulos. Pensava que o reino de Jesus era político, e por isso, após uma reunião familiar, sua mãe suplicou ao Mestre, no auge da fama, que quando instalasse seu governo um de seus filhos se assentasse à sua direita e o outro à esquerda. Os cargos inferiores pertenceriam aos outros.
A personalidade de João tinha paradoxos. Era simples e explosiva, amável e flutuante. Jesus chamou a ele e a seu irmão Tiago e Boanerges, que quer dizer “filhos do trovão”. Quando confrontados, reagiam agressivamente. Apesar de ter ouvido incansavelmente o discurso de Jesus Cristo sobre dar a outra face, amar os inimigos, perdoar tantas vezes fossem necessárias, João teve a coragem de pedir ao próprio Jesus Cristo que assassinasse com fogo os que não seguiam com eles.
Judas Iscariotes era moderado, dosado, discreto, equilibrado e sensato. Não há elementos que indiquem que se tratava de uma pessoa tensa, ansiosa e inquieta. Nunca tomou uma atitude agressiva ou impensada. Jamais foi repreendido por seu mestre.
Sabia lidar com contabilidade, e por isso cuidava do dinheiro do grupo. Era um zelote, pertencia a um grupo social de refinada cultura. Provavelmente era o mais eloqüente e o mais polido dos discípulos. Mostrava preocupação com as causas sociais. Agia silenciosamente.

Os discípulos diante de uma equipe de psicólogos
Se uma equipe de psicólogos especialista em avaliação da personalidade e desempenho intelectual analisasse a personalidade do time escolhido pelo Mestre dos Mestres, provavelmente todos seriam desaprovados, exceto Judas.
Judas era o mais bem preparado dos discípulos. Tinha as melhores características de personalidade, exceto uma: não era uma pessoa transparente. Ninguém sabia o que se passava dentro dele. Essa característica corroeu sua personalidade como traça. Levou-o a ser infiel a si mesmo, a perder a capacidade de aprender.
Tinha tudo para brilhar, mas aprisionou-se no calabouço dos seus conflitos. Antes de trair Jesus, traiu a si mesmo. Traiu sua consciência, seu amor pela vida, seu encanto pela existência. Isolou-se, tornou-se autopunitivo.
O maior vendedor de sonhos de todos os tempos, contrariando a lógica, escolheu uma equipe de jovens completamente despreparada para a vida e para executar um grande projeto. Os discípulos correram riscos ao segui-lo, mas ele correu riscos incomparavelmente maiores ao escolhê-los.
Ele tinha pouco mais de três anos para ensinar-lhes. Era um tempo curtíssimo para transformá-los no maior grupo de pensadores e empreendedores desta terra. Almejava lapidar a sabedoria na personalidade rude e complicada deles e torná-los capazes de incendiarem o mundo com suas idéias, e desse modo mudar para sempre a história da humanidade.
A escolha de Jesus não foi baseada no que aqueles jovens possuíam, mas no que ele era. A autoconfiança e a ousadia de Jesus não têm precedentes. Ele preferiu começar do zero, trabalhar com jovens completamente desqualificados a trabalhar com os fariseus saturados de vícios e preconceitos. Preferiu a pedra bruta à mal lapidada.

Os sonhos que contagiavam o inconsciente
A vida sem sonhos é como um céu sem estrelas. Alguns sonham em ter filhos, em ser cientistas, em explorar o desconhecido e descobrir os mistérios do mundo. Outros sonham em ser sociavelmente úteis, em aliviar a dor das pessoas.
Alguns sonham com uma excelente profissão, em ter grande futuro, em possuir uma casa na praia. Outros sonham em viajar pelo mundo, conhecer novos povos, novas culturas, e se aventurar por ares nunca antes desvendados. Sem sonhos, a vida é como uma manhã sem orvalho, seca e árida.
O Mestre dos Mestres andava aos brados pelas cidades, vielas e na beira das praias, discursando sobre os mais belos sonhos. Seu discurso era contagiante. Seus ouvintes ficavam eletrizados. Seus sonhos mexiam com os desejos fundamentais do ser humano de todas as eras. Eles tocavam o inconsciente coletivo e traziam dignidade à existência tão breve, tão bela, mas tão sinuosa.
Quais foram os principais sonhos que abriram as janelas da inteligência dos discípulos e irrigaram suas vidas com uma meta superior?

Vendia o sonho de um reino justo
As pessoas que o ouviam ficavam perplexas. Elas deviam se perguntar: “Quem é esse homem Que reino justo é esse que ele proclama? Conhecemos os reinos terrenos que nos exploram e nos discriminam, mas nunca ouvimos falar de um reino dos céus.”
Ele proclamava com ousadia: “Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos céus.” A palavra “arrepender” usada por Jesus explorava uma importante função da inteligência. Ela não significava culpa, autopunição ou lamentação. No grego ela significa uma mudança de rota, revisão de vida.
Queria que as pessoas repensassem seus caminhos, revisassem seus conceitos, retirassem o gesso de suas mentes. Os que são incapazes de repensar serão sempre vítimas e não autores de sua história.
O Mestre dos Mestres discursava sobre um reino que estava além dos limites tempo-espaço. Um reino onde habitava a justiça, onde não havia classes sociais, não existia discriminação. Uma esfera onde a paz envolveria o território da emoção e as angústias e aflições humanas não seriam sequer recordadas. Não era este um grandioso sonho?
Os tempos de Jesus eram uma época de terror. Tibério César, o imperador romano, dominava o mundo com mão de ferro. Para financiar a pesada máquina administrativa de Roma, pesados impostos eram cobrados. A fome fazia parte do cotidiano. Não se podia questionar. Todo motim era debelado com massacres.
O momento político recomendava discrição e silêncio. Mas nada calava a voz do mais fascinante vendedor de sonhos.

Vendia o sonho da liberdade
Sem liberdade o ser humano se deprime, se asfixia, perde o sentido existencial. Sem liberdade, ou ele se destrói ou destrói os outros. Por isso o sistema carcerário não funciona.
A prisão exterior mutila o ser humano, não transforma a personalidade de um criminoso, não expande sua inteligência, não reedita as áreas do seu inconsciente que financiam o crime. Apenas imprime dor emocional. Eles precisam ser reeducados, conscientizados, tratados.
Jesus falava sobre a falta de liberdade interior, que é mais grave e sutil que a vida exterior. Vivemos em sociedades democráticas, falamos tanto de liberdade, mas freqüentemente ela está longe do território da psique.
Existem diversas formas restrição à liberdade. As preocupações existenciais, os pensamentos antecipatórios, a ditadura da estética do corpo e a exploração emocional das propagandas são algumas delas.
Gostaria de destacar a fábrica de ícones construída pela mídia. Os jovens não têm seus pais, professores e os demais profissionais que lutam para vencer profissionalmente como seus modelos de vida.
Seus modelos são mágicos: atores, esportistas, cantores que fazem sucesso do dia para a noite.
Esse modelo mágico não tem alicerces, não dá subsídios para suportar dificuldades e enfrentar desafios. Cria uma masmorra interior, sonhos inalcançáveis. Cria uma grande maioria gravitando em torno de uma minoria. Para a psicologia, a supervalorização é tão aviltante quanto a discriminação.
Jesus discorria sobre uma liberdade poética. A liberdade de escolha, de construir caminhos, de seguir a própria consciência. Discursava sobre o gerenciamento dos pensamentos, a administração da emoção, o exercício da humildade, a capacidade de perdoar, a sabedoria de expor não impor as idéias, a experiência plena do amor pelo ser humano e por Deus.
O Mestre da vida vivia o que discursava. Não impedia as pessoas de abandoná-lo, de traí-lo e nem mesmo de negá-lo. Nunca houve alguém tão desprendido e que exercitasse de tal forma a liberdade.

Vendia o sonho da eternidade
Onde estão Napoleão Bonaparte, Hitler, Stalin? Todos pareciam tão fortes, cada um a seu modo, uns na força física, outros na loucura. Mas por fim todos sucumbiram ao caos da morte. Os anos passaram e eles se despediram do breve parêntese do tempo.
Viver é um evento inexplicável. Mesmo quando sofremos, nos angustiamos e perdemos a esperança, somos complexos e indecifráveis. Não apenas a alegria e a sabedoria, mas também a dor e a insensatez revelam a complexidade da psique humana.
Diariamente imprimimos no córtex cerebral, através da ação psicodinâmica do fenômeno RAM. Milhares de experiências psíquicas. São milhões de experiências anuais que tecem a colcha de retalhos da nossa personalidade.
Quem pode esquadrinhar os fenômenos que nos transformam em “homo intelligens”? Quem pode decifrar os segredos que financiam as crises de ansiedade e as primaveras dos prazeres?
Quando viajo com minhas filhas à noite e vejo ao longe as casas e fazendas com uma luz acesa, eu pergunto a elas: “Quem serão as pessoas que moram naquela casa? Quais são seus sonhos e suas alegrias mais importantes? Quais foram as lágrimas que elas nunca choraram?”
Desejo humanizar minhas filhas, levá-las a compreender que cada ser humano possui uma história fascinante, independentemente dos seus erros, acertos, vitórias e derrotas. Almejo que elas respeitem a vida e percebam a complexidade da personalidade.
Todavia, um dia essa personalidade experimenta o caos. A magnífica vida que possuímos vai para a solidão de um túmulo. Despreparada, enfrenta o seu maior evento, o seu capítulo final. Todo o dinheiro, fama, status, labutas não acrescentam um minuto à existência. O fim da vida sempre perturbou o ser humano, dos primários aos intelectuais. Todos os heróis se tornam frágeis crianças no término da vida.
A medicina luta desesperadamente para prolongar a vida e dar qualidade a ela. As religiões têm a mesma aspiração. Elas discorrem sobre o alívio da dor e a superação da morte. Sem dúvida a continuidade consciente e livre da existência é o maior de todos os sonhos.
Do ponto de vista científico, nada é tão drástico para a memória e para o mundo das idéias quanto o esfacelamento cerebral. A memória se desorganiza, bilhões de informações se perdem, os pensamentos se descolam da realidade, a consciência mergulha no vácuo da inconsciência. O tudo e o nada se tornam a mesma coisa.
Jesus vendia, com todas as letras, o sonho da eternidade. Ele tinha plena consciência das conseqüências filosóficas, psicológicas e biológicas da morte. Mas, com segurança inigualável, discorria sobre sua superação.
Para perplexidade da medicina, ele dizia ousadamente que pisava nesta Terra para trazer esperança ao mortal. A morte não destruiria a colcha de retalhos da memória. O ser humano sobreviveria e resgataria sua identidade. Retomaria a sua consciência.
Pais abraçariam seus filhos depois que fechassem os olhos. Amigos se reencontrariam depois de longa despedida. Nunca alguém foi tão longe em seus sonhos. Os seus discursos arrebatavam multidões.

Vendia o sonho da felicidade inesgotável
É impossível exigir estabilidade plena da energia psíquica, pois ela se organiza, se desorganiza (caos) e se reorganiza continuamente. Não existem pessoas calmas, alegres, serenas sempre. Nem mesmo existem pessoas ansiosas, irritadas e incoerentes permanentemente.
Ninguém é emocionalmente estático, a não ser que esteja morto.
Devemos reagir e nos comportar sob determinado padrão para não sermos instáveis, mas este padrão sempre refletirá uma emoção flutuante.
A pessoa mais tranqüila perderá sua paciência. A pessoa mais ansiosa terá momentos de calma. Só os computadores são rigorosamente estáveis. Por isso eles são lógicos, programáveis e, portanto, de baixa complexidade.
Nós, ao contrário, somos tão complexos que nossa disposição, humor, interesses mudam com freqüência. Devemos estar preparados para enfrentar os problemas internos e externos.
Devemos ter consciência de que os problemas existem para serem resolvidos e não para nos controlar. Infelizmente, muitos são controlados por eles. A melhor maneira de ter dignidade diante das dificuldades e sofrimentos existenciais é extrair lições deles. Caso contrário, o sofrimento é inútil.
Ser feliz, do ponto de vista da psicologia, não é ter uma vida perfeita, mas saber extrair sabedoria dos erros, alegria das dores, força das decepções, coragem dos fracassos. Ser feliz, nesse sentido, é o requisito básico para a saúde física e intelectual.
O maior vendedor de sonhos certa vez chocou seus ouvintes. Ele estava numa grande festa. O clima, entretanto, era de terror. Ele corria risco iminente de ser preso e morto. Seus discípulos esperavam dessa que vez ele fosse discreto, passasse despercebido. Mais uma vez os deixou perplexos.
Subitamente, ele se levantou e com voz altissonante disse: “Quem tem sede venha a mim e beba...” Ele discorreu sobre a angústia existencial que cala fundo em todo ser humano, dos ricos aos miseráveis, e vendeu o sonho do prazer pleno, do mais alto sentido da vida.
Ele bradou a todos os ouvintes que quem tivesse sede emocional bebesse da sua felicidade, quem fosse ansioso bebesse da sua paz. Jamais alguém fez esse convite em toda a história. Nunca alguém foi tão feliz na terra de infelizes.
A morte o rondava, mas ele homenageava a vida. O medo o cercava, mas ele bebia da fonte da tranqüilidade. Que homem é esse que discursa sobre o prazer na terra do terror? Que homem é esse que revelava uma paixão pela vida quando o mundo desabava sobre ele? Sem dúvida, ele é o maior vendedor de sonhos de todos os tempos!

Trabalhando na personalidade até o último minuto
O Mestre dos Mestres tinham de revolucionar a personalidade do seu pequeno grupo para que os discípulos revolucionassem o mundo. Seria a maior revolução de todos os tempos. Mas essa revolução não poderia ser feita com o uso de armas, força, chantagem, pressões, pois essas ferramentas, sempre usadas na história, não conquistam o inconsciente. Elas geram servos, e não pessoas livres.
Parecia loucura o projeto de Jesus. Era quase impossível atuar nos bastidores da mente dos discípulos e transformar as matrizes conscientes e inconscientes da memória para tecer novas características de personalidade neles.
Não sabemos onde estão as janelas doentias da nossa personalidade. Para termos uma idéia, a área equivalente à cabeça de um alfinete contém milhares de janelas com milhões de informações ao córtex cerebral. Como encontrá-las? Como transformá-las? O processo é tão complicado que um tratamento psíquico demora semanas, e em alguns casos anos, para se ter sucesso.
Deletar a memória é uma tarefa fácil nos computadores. No homem ela é impossível. Todas as misérias, conflitos e traumas emocionais que estão arquivados não podem ser destruídos, a não ser que haja um trauma cerebral. A única possibilidade, como vimos, é sobrepor novas experiências no lócus das antigas – o que chamamos de reedição – ou então construir janelas paralelas que se abrem simultaneamente às doentias.
Se você tiver uma janela paralela que contém segurança, ousadia, determinação e que se abre simultaneamente às janelas do medo, do pânico, da ansiedade, você terá subsídios para superar sua crise. Se não possui essa janela, terá grande chance de se tornar uma vitima.
Mas como reeditar a memória dos discípulos ou construir janelas paralelas em tão pouco tempo? Sinceramente, era uma tarefa quase impossível. Se fosse viável transportar os mais ilustres psiquiatras e psicólogos clínicos através de uma máquina do tempo para tratar dos discípulos de Jesus com sete sessões por semana, mesmo assim os resultados seriam pobres. Por quê? Porque eles não tinham consciência dos seus problemas.
O grande desafio para o sucesso do tratamento psicológico não é dimensão de uma doença, mas a consciência que o paciente tem da doença e a capacidade de intervenção na sua dinâmica.
Há poucos dias atendi um paciente que sofre de síndrome do pânico há dez anos. Tomou muitos tipos de antidepressivos e tranqüilizantes, mas os ataques permaneceram.
Depois de conhecer a sua história, expliquei-lhe o mecanismo dos ataques do pânico. Comentei sobre a abertura das janelas da memória em frações de segundos, o volume de tensão decorrente dessa abertura e o encarceramento do “eu”.
Disse-lhe que o “eu” deveria sair da platéia e, entrar no palco da mente no momento do ataque do pânico (foco de tensão), desafiar sua crise, gerenciar os pensamentos, criticar a postura submissa da emoção e se tornar o diretor do roteiro da sua vida.
Esse processo é um treinamento. Quem o realiza reedita seu inconsciente e constrói janelas paralelas. Tem grande possibilidade de ficar livre dos medicamentos e do seu psiquiatra ou psicólogo.
Sempre que treino psicólogos, enfatizo que eles devem nutrir o “eu” dos pacientes para que eles deixem de ser espectadores passivos das próprias misérias. Os pacientes têm o direito de conhecer o funcionamento básico da mente, os papéis da memória, a construção das cadeias de pensamentos, para serem líderes de si mesmos.
Por que é tão difícil mudar a personalidade? Porque ela é tecida por milhares de arquivos complexos e contém bilhões de informações e experiências. Não possuímos ferramentas para mudar magicamente esses arquivos que se inter-relacionam multifocalmente.

Quem muda as janelas do medo, da impulsividade, da timidez, do humor triste, rapidamente? Na medicina biológica alguns tratamentos são rápidos; Na medicina biológica alguns tratamentos são rápidos; na medicina psicológica é necessário reescrever os capítulos da história arquivados na memória.
Os discípulos tinham milhares ou talvez milhões de janelas doentias. Eles frustraram seu Mestre continuamente durante mais de três anos. Jesus pacientemente os treinava.
O Mestre dos Mestres demonstrava que detinha o mais elevado conhecimento de psicologia. Conhecia o processo de transformação da personalidade. Nunca fez um milagre na personalidade humana, pois sabia que ela é um campo de reedição difícil de ser operacionalizado.
Ele criou conscientemente ambientes pedagógicos nas praias, nos montes, nas sinagogas, para produzir ricas experiências que pudessem se sobrepor às zonas doentias do inconsciente dos discípulos. Creio que ele realizou o maior treinamento para transformação da personalidade de todos os tempos.
Ao analisar a personalidade de Jesus Cristo sob o olhar da ciência, fiquei um pouco assombrado. Tive a convicção de que a ciência foi tímida e omissa por nunca ter investigado a sua inteligência. Por isso foi banido das universidades, excluído da formação dos psicólogos, educadores, sociólogos, psiquiatras. Foi um prejuízo enorme. As sociedades ocidentais tornaram-se cristãs somente pelo nome.
Jesus Cristo programou, como um microcirurgião que disseca pequenos vasos e nervos, situações e ambientes para treinar e transformar os discípulos. Cada parábola, cada gesto diante dos marginalizados que o procuravam e cada atitude perante uma situação de perseguição eram laboratórios onde se realizava esse treinamento.
Ele provou que em qualquer época da vida podemos mudar os pilares centrais que estruturam a nossa personalidade. Seus laboratórios eram uma universidade viva. Seu objetivo era expor espontaneamente as mazelas do inconsciente. As fragilidades apareciam, as ambições afloravam, a arrogância vinha à tona, a insensatez surgia.
Seus laboratórios aceleravam o processo de tratamento psiquiátrico e psicoterapêutico. Depois de anos de análise detalhada é que fui entender o processo de tratamento psiquiátrico e psicoterapêutico. Depois de anos de análise detalhada é que fui entender o processo usado pelo Mestre dos Mestres.
Todos os seus comportamentos tinham um alvo imperceptível aos olhos. Quando era gentil com uma prostituta, ele tratava o preconceito dos discípulos. Quando era ousado em situações de risco, ele tratava a insegurança deles.

Reconstruindo o ser humano
Vamos analisar uma das mais belas passagens de sua vida. Horas antes de ser preso, ele teve na última ceia um conjunto de atitudes capazes de deixar perplexa a psiquiatria e a psicologia. A última ceia é mundialmente famosa, mas pouquíssimo conhecida sob o ângulo científico.
Como estava para morrer, ele teria que ensinar rapidamente as mais belas lições de inteligência, como a arte da solidariedade, a capacidade de se colocar no lugar do outro, o respeito pela vida. Teoricamente, precisaria de anos para realizar essa tarefa pedagógica.
Então, sem dizer qualquer palavra, o Mestre pegou uma bacia e água e uma toalha e começou  a lavar os pés daqueles discípulos que lhe deram tanta dor de cabeça. É simplesmente inacreditável sua atitude. Jesus estava no auge da fama. Multidões queriam vê-lo. Os discípulos o colocavam num patamar infinitamente mais alto do que o do imperador Tibério César que governava Roma. De repente, ele abdica da mais alta posição, se prostra diante dos jovens galileus e começa a extirpar a sujeira dos seus pés. Eles ficaram paralisados, chocados, estarrecidos. Eles se entreolhavam com um nó na garganta. Não sabiam o que dizer.
Enquanto as gotas de água escorriam por seus pés, um rio emocional percorria os bastidores da mente deles irrigando os becos da inteligência. O Mestre dos Mestres conquistava o inconquistável: penetrava nos solos inconscientes, reescrevendo as janelas da intolerância, da disputa predatória, da inveja, do ciúme, da vaidade.
Foram dez ou vinte minutos que causaram mais efeitos do que décadas de bancos escolares ou anos de psicoterapia. A última ceia foi o maior laboratório de tratamento psíquico e enriquecimento da arte de pensar de que se tem notícia. Esta Terra produziu mentes brilhantes, mas nunca ninguém foi tão longe como Jesus Cristo. Ele foi o Mestre dos Mestres. Ele fez isso quando estava para ser torturado e morto. Quem é capaz de raciocinar no caos?
Após tomar esta atitude, ele disse que no seu reino as relações seriam completamente diferentes das que existem na sociedade. O maior não é aquele que domina, tem mais poder político ou financeiro, mas aquele que serve.
Para ele, somente aquele que abdica da autoridade é digno dela. Qualquer líder espiritual, político, social que deseja que as pessoas gravitem em torno de si não é digno de ser um líder. Os que usam o poder e o dinheiro para controlar os outros estão despreparados para Possuí-los. Somente os que servem são dignos de estar no comando. O Mestre da vida foi fiel às suas palavras, viveu o que discursou. Deus mais importância aos outros do que a si, mesmo diante da morte. Foi digno da mais alta autoridade, porque abdicou dela. O maior vendedor de sonhos foi o maior educador e o maior psicoterapeuta de todos os tempos.
Nunca alguém tão grande se fez tão pequeno para tornar grandes os pequenos. Se as religiões e a ciência descobrissem a grandeza da sua inteligência, as sociedades nunca mais seriam as mesmas (Cury, 2001).

Apostando tudo o que tinha nos que o frustravam
Após sair da última ceia, os discípulos decepcionaram seu Mestre ao máximo. Ele estava para ser preso e aguardava a escolta. Pela primeira vez pediu algo a eles. Solicitou que estivessem com ele naquele momento angustiante. Mas os discípulos, estressados por vê-lo suando sangue e sofrendo, dormiram.
Judas chegou com a escolta. Traiu o Mestre com um beijo. Em vez de ser  dominado pela frustração e ódio, Jesus gerenciou seus pensamentos, relaxou sua emoção e olhou com gentileza para seu traidor. O espantoso é que a análise psicológica revela que Jesus não tinha medo de ser traído por Judas; tinha medo de perder Judas, de perder um amigo.
Ele disse: “Com um beijo me trais”. Queria dizer: “Você tem certeza de que é isso o que deseja? Pense antes de reagir.” Judas ficou perturbado, saiu de cena, não esperava essa resposta.
O Mestre dos Mestres não desistiu dele, queria reconquistá-lo, levá-lo a usar seu dramático erro para crescer. Queria que Judas não fosse controlado pela culpa e pela autopunição e nem desistisse de sua vida. Infelizmente Judas não ouviu a voz suave, sábia e afetiva de seu mestre. Jamais uma pessoa traída amou tanto um traidor!
Horas depois de preso, Pedro golpeou-o três vezes negando veemente que o conhecia. Pedro amava o Mestre profundamente, mas estava no cárcere da emoção. Não raciocinava. Jesus não exigiu nada dele. Ainda o estava treinando. No momento em que ele o nega pela última vez, o Mestre vira-se para ele e diz: “Eu o compreendo!”
Você já disse para alguém que errou muito com você “eu o compreendo”? Somos muitas vezes carrascos das pessoas que erram, até dos nossos filhos e alunos, mas o maior vendedor de sonhos jamais desistiu dos jovens que escolheu. Os jovens também são implacáveis e agressivos com os erros dos seus pais. Falta compreensão na espécie humana sobra punição.
Pedro saiu de cena e pôs-se a chorar. Nesse momento ele deu um salto na sua vida. O seu erro foi transformado num pilar de crescimento, e não em objeto de punição, como nas provas escolares das sociedades modernas. Neste livro ainda irei discorrer sobre a crise da educação e a destruição de sonhos.
Apesar dos inúmeros defeitos dos discípulos, duas qualidades os coroavam. Eles tinham disposição para explorar o novo e sede de aprender. Bastava isso para o Mestre, pois ele acreditava que a pedra bruta seria lapidada ao longo da vida. Sabia que seu projeto levaria tempo para ser implantado, mesmo depois que fechasse os olhos.
Não se importava com os acidentes de percurso. Confiava nas sementes que plantara. Acreditava que elas germinariam na terra da timidez, nos solos da insegurança, nas planícies rochosas da intolerância. Por fim, seus discípulos se tornaram uma equipe excelente de pensadores. Analise as cartas de Pedro que estão no Novo Testamento. Elas são um tratado de psicologia social. Errou muito, mas cresceu demais.
Jesus Cristo investiu sua inteligência em pessoas complicadíssimas para mostrar que todo ser humano tem esperança. As pessoas mais difíceis com quem você convive têm esperança. A história de Jesus é um exemplo magnífico. Demonstra que as pessoas que mais nos dão dor de cabeça hoje poderão vir a serem as que mais nos darão alegrias no futuro. O que fazer?
Vendendo sonhos até a última gota de sangue
Ninguém espera uma reação inteligente de uma pessoa torturada, ainda mais pregada numa cruz. A memória é bloqueada, o raciocínio, abortado, o instinto, controlado, o medo e a raiva dominam. Jesus foi surpreendente quando estava livre, mas foi incomparavelmente mais surpreendente quando foi crucificado.
Na primeira hora da crucificação, ele abriu as janelas da inteligência e bradou: “Pai, perdoa-os, pois eles não sabem o que fazem.” Perdoou homens indesculpáveis. Compreendeu atitudes incompreensíveis. Incluiu pessoas dignas de completa rejeição.Um dos ladrões ao seu lado ouviu essa frase e ficou assombrado. A dor lhe cortara o raciocínio, seus olhos estavam turvos, seus pulmões ofegantes. Mas, ao ouvir o brado de Jesus, recebeu um golpe de lucidez. Seus olhos se abriram. Virou o rosto e viu por trás do corpo magro e mutilado de Jesus uma pessoa encantadora. Pouco tempo depois, ainda que sem forças, o criminoso pediu-lhe: “Quando estiveres no teu reino, lembra-te de mim.”
Os gestos de Jesus o fizeram sonhar com um reino acima dos limites do tempo, um reino complacente e que transcendia a morte. Que homem é esse que mesmo dilacerado era capaz de inspirar um miserável a sonhar?
Os que estavam aos pés da cruz ficaram fascinados. Reações fascinantes como essas ocorreram durante as seis longas horas da crucificação. Foi a primeira vez na história que alguém sangrando, esmagado pela dor física e emocional, surpreendeu os que estavam livres.
Quando Jesus deu o último suspiro, o chefe da guarda romana, encarregado de cumprir a sentença condenatória de Pilatos, disse: “Verdadeiramente este era o filho de Deus.” Enxergou além dos parênteses do tempo. Viu a sabedoria ser transmitida por um mutilado na cruz.
Muitos políticos e intelectuais não conseguem influenciar as pessoas com suas idéias, ainda que estejam livres para debater o que pensam. Mas o Mestre dos Mestres abalou os alicerces da ciência ao levar as pessoas a velejarem pelo mundo dos sonhos enquanto todas as suas células morriam.
Agostinho, Francisco de Assis, Tomás de Aquino, Spinosa, Hegel, Abraham Lincoln, Martin Luther King e milhares de pessoas de diferentes religiões, inclusive não cristãs, foram influenciadas por Ele. Ouviram a voz inaudível dos seus sonhos.
Se Freud, Karl Marx, Jean-Paul Satre tivessem a oportunidade de analisar profundamente a personalidade de Jesus como eu o fiz, provavelmente não estariam entre os maiores ateus que pisaram nesta Terra, mas entre os que mais deixariam cativar por seus magníficos sonhos.
Maomé chamou Jesus de Sua Dignidade no Alcorão, exaltando-o mais do que a si mesmo. O budismo, embora seja anterior a Cristo,  incorporou seus principais ensinamentos. Sri Ramakrishna, um dos maiores líderes espirituais da Índia, confessou que a partir de 1874 foi profundamente influenciado pelos ensinamentos de Jesus Cristo. O território consciente e inconsciente de Gandhi também foi trabalhado por seus pensamentos.
O Mestre dos Mestres nunca pressionou ninguém para segui-lo, apenas convidava. Não andou mais do que trezentos quilômetros a partir do lugar em que nascera. Não tinha uma escolta, não possuía uma equipe de marketing, nunca derramou uma gota de sangue. Sua pequena comitiva se constituía de um grupo de apenas 12 jovens de personalidade difícil. Mas hoje, para nossa surpresa, bilhões de pessoas de todas as religiões, de todas as culturas, de todos os níveis intelectuais o seguem.
Seguem alguém que não conheceram. Seguem alguém que nunca viram. Seguem alguém que lhes inspirou emoção e encheu suas vidas de sonhos.