quinta-feira, 12 de maio de 2011

Adeus Vovô!

Adeus vovô!!!

Que saudades vou sentir do senhor...
Eu já chorei tanto quando a minha mãe me telefonou dizendo que o senhor tinha morrido...
Eu pensava que o senhor ia viver pra sempre...
Eu tenho andado pela casa, escutado umas músicas meio doidas, e tenho pensado em algumas pessoas que eu gosto pra ver se passa, mas agora, vendo a tua foto, estou em prantos...
Eu sei que o senhor não pode me ouvir agora, mas eu não estou falando com um homem que morreu, eu estou falando com o meu querido avô que  eu gostava de ver moendo o milho pra fazer o cuscús, e o senhor me chamava carinhosamente de "mimosa", eu ficava um pouco chateada, porque pra mim, mimosa era nome de vaca... rsrsrs, eu amava sentir o teu cheiro vovô... Quando estava de férias com minha mãe e íamos pra sua casa, eu gostava de sentar no batente alto da porta e olhar todo aquele mato ao redor, e ver indo pra roça, onde o senhor ia caçar, plantar, colher, eu te achava tão forte, eu sempre imaginava que você lutava com monstros ferozes, matava serpentes e chegava sempre vitorioso em casa como um grande herói. E eu tinha certeza de que o senhor nunca voltaria de mãos vazias, e nunca me decepcionei. Eu ficava chateada com a vovó porque ela gostava de dá bronca no senhor, o senhor era tão bonzinho, ela sempre ficava falando como quem falava com uma criança, agora eu entendo, o senhor sempre foi uma criança. Eu achava engraçado que quando o senhor molhava as mãos passava as mãos nas calças pra enxugar, e as vezes ficavam as marcas das suas mãos, aí a vovó brigava, ai como eu achava a vovó chata... Mas o senhor nunca a tratava mal, nem reclamava, o senhor ficava me perguntando que tipo de bichos eu gostava, e sempre os trazia pra que eu visse, eu amava vê-los correndo pelo seu quintal... e olhar toda aquela imensidão da sua fazenda, como eu era orgulhosa me sentia herdeira de tudo aquilo. Aí eu perguntava: - Vovô, me mostra o fim das suas terras? Aí o senhor respondía que eu não podia alcançar com os meus olhos... Eu me sentia uma verdadeira princesa... E vendo aquela casa que o senhor construiu quase no começo do século passado, era tudo muito mágico... 
Vovô, sem falar das histórias que o senhor me contava... e teve uma que o senhor me pediu segredo, agora que o senhor se foi, acho que posso dizer, o senhor disse que tinha achado uma pepita, eu nunca contei pra ninguém... Vovô, vou sentir saudade da sua tranqüilidade, eu sei vovô que o senhor não fingia toda aquela paz, ela era real, por isso eu amava sempre está perto do senhor... Ai vovô...como me dói saber que o senhor foi embora pra um lugar que eu não posso ainda te sentir... Mas como um bom homem, o senhor fez questão de ir com muita educação, o senhor nem adoeceu, e talvez estivesse tendo um sonho tão lindo quando partiu.
Vovô eu estava esperando o momento certo pra te apresentar pra algumas pessoas que gostaria que conhecesse o senhor, porque o senhor fez parte da história do Ceará, e fazia parte da nossa cultura, o senhor tinha uma linguagem única, e o senhor presenciou acontecimentos que só o senhor podia contar, como quando o Lampião apareceu por sua cidade e outras coisas mais...
Ai vovô durma em paz, mas me perdôe vovô, uma coisa eu não vou poder controlar, porque cada vez que eu me lembrar do senhor eu vou ficar feia, como o senhor dizia, que eu ia ficar feia se chorasse, embora perto do senhor acho que nunca tive motivos pra chorar... Mas agora vovô... Me perdôe... Eu não posso controlar...

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