sábado, 12 de fevereiro de 2011

Contos da Infância...

Quando eu era criança tinha a manía de ler os contos, as histórinhas me levavam a um mundo novo, em que inconscientemente, com toda a minha inocência, fazía com que eu não entendesse tudo o que estava acontecendo ao meu redor, um dia eu pretendo falar mais da minha vida, que embora simples, existem fatos que daría uma biografía interessante, uma história como a do filme que me inspirou o nome deste blog... "A Vida é Bela", onde o menino passava em meio a guerra, onde morreram muitos judeus, e o seu pai mostrou, mesmo em meio a um grande inferno de sofrimento, que ele podería ver a vida de uma forma bela, foi o que aconteceu comigo, e sou muito grata por saber que um dia eu fui inocente, incapaz de perceber que ao meu redor havía uma guerra, onde meu pai, em meio a dificuldades, privações e humilhações, e com um orgulho de um homem digno, acreditava e ainda acredita que nós somos mais do que roupas, sapatos, jóias, e sorrisos falsos, somos pessoas dignas de respeito, enquanto formos éticos.

Esta semana meu filho me falou uma palavra que me lembrou um dos contos que eu gostava de decorar, tinha textos e textos gravados na memória, até hoje lembro de alguns, e quando achei este chorei de felicidade, e também porque tinha lido há anos, e um dia precisei fazer uma redação quando estava morando em São Paulo, fiz me baseando nessa história, e tirei a nota máxima, esse texto, que é uma parte do livro, que se chama Uma Idéia Toda Azul, tem um sentido incrível, que me identifiquei automaticamente com ele, isso devido, a minha forma de me esconder num mundo mágico, encantado onde podemos acreditar em príncipes e os sonhos se realizam.
Aí vai...

A primeira só
Era linda, era filha, era única. Filha do rei. Mas de que adiantava ser princesa se não tinha com quem brincar?
Sozinha no palácio chorava e chorava. Não queria saber de bonecas, não queria saber de brinquedos. Queria uma amiga para gostar.
De noite o rei ouvia os soluços da filha. De que adianta a coroa se a filha da gente chora à noite? Decidiu acabar com tanta tristeza. Chamou o vidraceiro, chamou o moldureiro. E em segredo mandou fazer o maior espelho do reino. E em silêncio mandou colocar o espelho ao pé da cama da filha que dormia.
Quando a princesa acordou, já não estava sozinha. Uma menina linda e única olhava surpresa para ela, os cabelos ainda desfeitos do sono. Rápido saltaram as duas da cama.
Rápido chegaram perto e ficaram se encontrando. Uma sorriu e deu bom-dia. A outra deu bom-dia sorrindo.
- Engraçado - pensou uma - a outra é canhota.
E riram as duas.
Riram muito depois. Felizes juntas, felizes iguais. A brincadeira de uma era a graça da outra. O salto de uma era o pulo da outra. E quando uma estava cansada, a outra dormia.
O rei, encantado com tanta alegria, mandou fazer brinquedos novos, que entregou à filha numa cesta. Bichos, bonecas, casinhas, e uma bola de ouro. A bola no fundo da cesta. Porém tão brilhante, que foi o primeiro brinquedo que escolheram.
Rolaram com ela no tapete, lançaram na cama, atiraram para o alto. Mas quando a princesa resolveu jogá-la nas mãos da amiga, a bola estilhaçou jogo e amizade.
Uma moldura vazia, cacos de espelho no chão.
A tristeza pesou nos olhos da única filha do rei. Abaixou a cabeça para chorar. A lágrima inchou, já ia cair, quando a princesa viu o rosto que tanto amava. Não só um rosto de amiga, mas tantos rostos de tantas amigas.
Não na lágrima que logo caiu, mas nos cacos todos que cobriam o chão.
- Engraçado, são canhotas - pensou.
Um olho, um sorriso, um lado de nariz. Depois, nem isso, pó brilhante de amigas espalhado pelo chão.

E riram.
Riram por algum tempo depois.  
Era diferente brincar com tantas amigas. Agora podia escolher. Um dia escolheu uma, e logo se cansou. No dia seguinte preferiu outra, e esqueceu dela em seguida. Depois outra e mais outra, até achar que todas eram poucas. Então pegou uma, jogou contra a parede e fez duas. Cansou de duas, pisou com o sapato e fez quatro. Não achou mais graça nas quatro, quebrou com martelo e fez oito. Irritou-se com as oito, partiu com uma pedra e fez doze.
Mas duas eram menores do que uma, quatro menores do que duas, oito menores do que quatro, doze menores do que oito.
Menores, cada vez menores.
Tão menores que não cabiam mais em si, pedaços de amigas com as quais não se podia brincar
Sozinha outra vez a filha do rei.
Chorava? Nem sei.
Não queria saber das bonecas,
Não queria saber dos brinquedos.
Saiu do palácio e foi correr no Jardim para cansar a tristeza.
Correu, correu, e a tristeza continuava com ela. Correu pelo bosque, correu pelo prado. Parou à beira do lago.
No reflexo da água a amiga esperava por ela.
Mas a princesa não queria mais uma única amiga, queria tantas, queria todas, aquelas que tinha tido e as novas que encontraria. Soprou na água. A amiga encrespou-se mas continuou sendo uma. Atirou-lhe uma pedra. A amiga abriu-se em círculos, mas continuou sendo uma.

Então a linda filha do rei atirou- se na água de braços abertos, estilhaçando o espelho em tantos cacos, tantas amigas que foram afundando com ela, sumindo nas pequenas ondas com que o lago arrumava sua superfície.
Era uma vez um rei que tinha uma filha. Não tinha duas, tinha uma, e como só tinha essa gostava dela mais do que qualquer outra.
A princesa também gostava muito do pai, mais do que qualquer outro, até o dia em que chegou o príncipe. Aí ela gostou do príncipe mais do que qualquer outro.
O pai, que não tinha outra para gostar, achou logo que o príncipe não servia. Mandou investigar e descobriu que o rapaz não tinha acabado os estudos, não tinha posição, e o reino dele era pobre. Era bonzinho, disseram, mas enfim, não era nenhum marido ideal para uma filha de quem o pai gostava mais do que de qualquer outra. O rei então chamou a fada, madrinha da princesa. Pensaram, pensaram, e chegaram à conclusão
de que o jeito melhor era botar a moça para dormir. Quem sabe, no sono sonhava com outro e se esquecia dele.
Dito e feito, deram uma bebida mágica para a jovem, que adormeceu na hora sem nem dizer boa-noite.
Deitaram a moça numa cama enorme, num quarto enorme, dentro de outro quarto enorme, onde se chegava por um corredor enorme. Sete portas enormes escondiam a entrada pequena do enorme corredor. Cavaram sete fossos ao redor do castelo. Plantaram sete trepadeiras nos sete cantos do castelo. E puseram sete guardas.
O príncipe, ao saber que sua bela dormia por obra da magia, e que pensavam assim afastá-la dele, não teve dúvidas. Mandou construir um castelo com sete fossos e sete plantas. Deitou-se numa cama enorme, num quarto enorme, onde se chegava por um corredor enorme disfarçado por sete enormes portas e começou a dormir.
Sete anos se passaram e mais sete. As plantas cresceram ao redor.


Os guardas desapareceram debaixo das plantas. As aranhas teceram cortinados de prata ao redor das camas, nas salas enormes, nos enormes corredores. E os príncipes dormiram nos seus casulos.
Mas a princesa não sonhou com ninguém a não ser com o príncipe. De manhã sonhava que o via debaixo da sua janela tocando alaúde. De tarde sonhava que sentavam na varanda e que ele brincava com o falcão e com os cães enquanto ela bordava no bastidor. E de noite sonhava que a Lua ia alta e que as aranhas teciam sobre o seu sono.
E o príncipe não sonhou com ninguém a não ser com a princesa. De manhã sonhava que via seus cabelos na janela, e que tocava alaúde para ela. De tarde sonhava que sentavam na varanda, e que ela bordava enquanto ele brincava com os cães e o falcão. E de noite sonhava que a Lua ia alta e que as aranhas teciam.
Até o dia em que ambos sonharam que era chegada a hora de casar, e sonharam um casamento cheio de festa e de música e de danças. E sonharam que tiveram muitos filhos e que foram muito felizes para o resto da vida.

(Uma Idéia Toda Azul - Marina Colasanti )

Um comentário:

  1. É Gardênia, é isso mesmo! Também fiquei muito emocionada quando assistí este filme, pois realmente o nosso pai nos criou dessa forma. Ele com toda sua simplicidade nos mostrou valores que o dinheiro não compra. Também sou muito grata ao nosso pai. Quando crescí, fiquei um pouco perdida porque ví que o mundo não era um conto de fadas, mas valeu, porque éramos felizes. Ele foi um homem sábio. Não sei como pode, eles sofreram tanto e tiveram tantos valores dentro de sí. Não posso deixar de falar da nossa mãe, porque ela também fez parte dessa história, ela uma mulher forte e resignada, determinada no que faz, e ainda é opiniosa, mexa com ela!!! Somos o reflexo deles, só hoje é que entendo, ainda bem, que deu tempo. Só assim posso curtir este momento mágico da vida, de está ao lado de duas pessoas que sofreramn, mas nunca nos abandonou. Quando eu era criança nunca ví meus pais falarem, palavrões, serem espertos encima dos outros, ou se aproveitarem da fraquezas dos fracos. Eles me passaram valores como honestidade, compromisso, lealdade, sinceridade, pontualidade, respeito ao próximo, me ensinou a gostar de dinheiro, e me disse quando eu era criança que quando eu crescesse que eu seria uma advogada, me ensinou que muitas vezes homens só querem nos usar, e muitos outros valores, isso não tem dinheiro que pague. Gardênia, quando vc era pequena,ele falava coisas que gravei na memória, e uma vez ele disse que vc era muito bonita, e quando crecesse, vc teria seu esposo que lhe daria tudo, e mesmo que vc não o amasse, vc daria um "jeito" para ser feliz com quem te fizesse feliz. O nosso pai é uma prova da vida, que pra ser esperto não precisa ser pilantra. Ele gosta do Glauber, mas ele respeita o fato de ele não falar com ele, mas acho que mesmo assim ele ama o Glauber. Ele diz que o Glauber foi uma das peças fundamental para algumas mudanças em nossa família. Ele nos ama. E nossa mãe também nos ama. Cada um ama do seu jeito. Devemos apenas amá-los incondicionalmente.

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